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O Dia da Mentira, mundialmente comemorado em 1º de abril, é, a meu ver, uma espécie de data magna da humanidade. A mentira, interpretada como um defeito moral, tem sido, a bem da verdade, um dos recursos mais utilizados pelo homem desde o começo da civilização. É tão antiga quanto o próprio Homo sapiens e remonta aos primórdios da comunicação oral e da escrita, que são os principais meios de transmissão da mentira, em todos os tempos.
Quem de nós – com exceção das crianças e dos bebuns, que nunca ou quase nunca mentem – não recorre, com frequência, nem que seja a uma mentirinha, uma invençãozinha, com o intuito de nos livrarmos de alguma condição ou circunstância indesejável? Convidam você para um determinado evento, por exemplo, e você não quer ir. Como desculpa, vem a justificativa de outro compromisso simultâneo. Mentiu. Vai ao médico e, com receios, escamoteia alguma informação útil à consulta. Mentiu. A circunstância é a mãe da maior parte das mentiras. Em qualquer caso, convém que se bote na cabeça que não mentimos para os outros, e sim, para nós mesmos. E isto tem um não sei quê de tara, de regozijo íntimo ou mesmo de autossatisfação no meio social. E parece até que saímos em defesa da mentira, quando repetimos categoricamente essas três palavras: a verdade dói. Há, todavia, a mentira jocosa e a mentira maldosa. No primeiro caso, não há quem não conheça um mentiroso convicto de que todos sabem que ele mente e que fingimos acreditar, numa convenção tácita entre o potoqueiro e quem o ouve. São os chamados mitomaníacos. No segundo caso, o mentiroso mal-intencionado chega mesmo a causar prejuízo, muita vez até, a uma legião inteira de pessoas. É nessa categoria que se incluem os políticos, com raríssima exceção. E há também aquele gênero de mentira – a mais maléfica de todas – que se propaga em cadeia, como ondas. As desse grupo ganharam, nos modismos hodiernos, a denominação estrangeira de “fake news”, que quer dizer “notícia falsa”, e se tornaram rotineiras e pandêmicas, ganhando asas nos meios de comunicação. No Brasil, especialmente, o Dia da Mentira, há muito tempo e em reverência à data, já devia ter entrado para o calendário como feriado nacional. Neste solo pátrio, do Oiapoque ao Chuí, desde o ano 1500 para cá, o que não falta é patranha, a começar pelos livros escolares de história do Brasil. Deve ser por isso que, há mais de três séculos, o poeta baiano Gregório de Matos, o Boca do Inferno, já proclamava: “Meu ofício é mentir, mas proveitoso… / Tanta mentira, tanta utilidade / Traz consigo o mentir nesta cidade, / Como o diz o mais triste mentiroso”. Outro achado poético, talvez bem mais contundente, é o do poeta paraibano Augusto dos Anjos, que num só verso resume: “O amor, na humanidade, é uma mentira”. Resta-nos, por fim, um lembrete consolador, segundo o qual, a mentira tem pernas curtas. Em tempo: esta crônica não significa uma apologia à mentira. Creiam-me. Pedro Paulo Paulino |